THE FALL (TESOURO ENTERRADO NO MEU QUINTAL)

Hoje vou falar de cinema. 

Dedicarei minhas palavras a um filme ao qual ninguém assistiu, nunca ouviu falar, nem sabe que existe e, mesmo assim, é um dos meus filmes preferidos. Passou batido, desse jeitinho mesmo. Chama-se The Fall (2006), e aqui no Brasil o título recebeu a horrenda tradução de Dublê de Anjo, fazendo parecer que ele passaria na Sessão da Tarde logo após o Vídeo Show. 

O que o mundo todo não sabe é que trata-se de uma obra-prima - sem exageros da autora do texto em questão. Vamos falar de nomes: recomendado por Spike Jonze e David Fincher, o filme é roteirizado e dirigido por Tarsem Singh e protagonizado por Lee Pace e a menininha Catinca Untaru (que rouba a cena com sua atuação de uma criança sendo uma criança, e não um pequeno adulto). 

O enredo é o seguinte: nos anos 20, Roy (Pace) e Alexandria (Untaru) encontram-se internados em um hospital ao se recuperarem de dois acidentes (duas quedas, por isso The Fall) em situações e ocasiões distintas. O alicerce da história é a relação que vai se formando entre os dois; um elo, digamos, não tão desinteressado. Roy, paraplégico e preso numa cama, usa da inocência de Alexandria ao narrar aos poucos um conto fantástico inventado por ele em troca de alguns favores, como que ela consiga para ele alguns remedinhos que, na dose correta, lhe tirariam do seu sofrimento em definitivo.

O desenlace dessa relação é lindo e comovente, mas é pano de fundo para o que realmente me encantou na película: a história que Roy inventa, com personagens inusitados como Charles Darwin, ilustrada em cores, locações belíssimas, ângulos de câmera de tirar o fôlego e um visual que é arte em estado puro.

A filmagem durou quatro anos em vinte e oito países (!!!!). As paisagens naturais e construções históricas das localidades foram utilizadas de forma a encher os olhos do espectador, causando a sensação de se estar diante da beleza absoluta. Aqui, até o feio é belo (não vou entrar nessa discussão semiótica e filosófica, senão o texto não teria fim): há uma cena de um senhor idoso brincando com sua dentadura que é um primor.

Ah, e a trilha sonora. A cena inicial retrata o acidente que deixou Roy acamado, numa sincronia impactante entre som e imagem; a sinfonia nº 7 de Beethoven trabalha como personagem na construção do trágico cenário.

E aí que ninguém sabe que esse filme existe. De certa forma, até acho isso conveniente, porque posso guardá-lo como uma relíquia só minha, um tesouro enterrado no meu quintal ao qual somente eu tenho acesso, visitando-o de vez em quando para admirar sua beleza. Por outro lado, há a chateação de saber o que vocês (sim, eu sei que você nunca viu esse filme) estão perdendo e que existe tanta coisa ruim por aí preenchendo um espaço tão precioso.

E foi pura sorte, tropecei em The Fall sem querer, num dia qualquer vendo TV a cabo. E passo aqui a palavra de "você tem que ver esse filme". Não tem em serviços de streaming, mas se você procurar bem e der aquele jeitinho, tudo se acerta (imagine aqui uma piscadinha). Depois me agradeçam.







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