COQUEIROS E PULSÃO DE MORTE ("QUE SERÁ, SERÁ")

Um título um pouco confuso para o relato de um pequeno acontecimento que nada tem de complexo, senão tão banal que nem deveria ser chamado de acontecimento. Porque nem aconteceu.

Estou passando parte do mês de Dezembro na casa de praia dos meus pais, com direito a muito banho de mar, caipirinhas, drinks, leituras na rede, jogos de buraco (que sempre acabam em briga) e descanso. 

Todas as manhãs acordo exatamente às 5:30 para fazer uma corrida numa calçada recentemente pavimentada na rua principal do condomínio onde fica a casa. De um lado da calçada está a rua e do outro ela é ladeada por coqueiros. Muitos. Lotados de cachos. Cachos lotados de cocos. Cocos grandes e pesados.

Neste ponto é bom lembrar que pessoas costumam caminhar pelo passeio, o que poderia ser levado em consideração pelos responsáveis pela manutenção das áreas comuns do condomínio (porque, vocês sabem, de acordo com a lei gravidade cocos caem. E há a possibilidade de caírem na cabeça dos passantes).

Pronto. A ideia veio à minha mente e dela não saiu mais: "e se um coco cair na minha cabeça no momento exato em que passo por baixo do coqueiro?". O resultado morte é bem provável - no mínimo um traumatismo craniano ou uma concussão.

Eu bem que poderia descer da calçada e caminhar pela rua no ponto em que houvesse um dos temidos coqueiros - uma solução bem simples e de fácil execução. Mas não, o que faço é continuar meu caminho em linha reta na calçada, com a música na voz de Doris Day "que será, será" tocando na minha cabeça e a esperança de que não caia nenhum coco.

O que isso me revela? Uma atração pelo tânatos, a pulsão de morte? Não sou da psicanálise mas esse conceito freudiano me parece um consenso na Psicologia. Seria um desejo por uma descarga de adrenalina naquele momento do "será hoje o dia da minha morte?". 

O mais provável é que penso demais em tudo, que o coco nunca caia, e, se cair vai doer bastante e fazer uma ferida inofensiva no meu coco (haha, o trocadilho). 

Conclusão: essa reunião poderia ter sido um e-mail. E meu cérebro deveria ter vindo com um botão de liga-desliga.

(texto escrito em 18/12/2022)

P.S. Agora relendo esse texto lembro de uma conversa que tive com um amigo: quando vou contar uma anedota começo já com o clímax, dando a falsa impressão que um acontecimento incrível irá se desenrolar, para só então acabar com um não-acontecimento e deixar todos os ouvintes/leitores decepcionados. Foi mal, aí.



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