TIMONEIRO: SOBRE SE DEIXAR LEVAR
É ele quem me carrega como nem fosse levar."
Paulinho da Viola disse, e assim o fiz. Larguei do timão, abdiquei do controle e me deixei ir com a maré. Literalmente. Aqui estou novamente, no pedacinho de chão e água que é minha casa nesse mundo. Uma tarde de sábado, maré baixa: uma enseada cercada por pedras e corais que fazem do mar uma piscina tranquila e quase sem ondas.
Sozinha no meu habitual banho de mar. Sempre vou até o fundo, onde os pés não alcançam a areia e nado debaixo d'água sentindo apenas o oceano me envolvendo, sem texturas sólidas: é a liberdade. Hoje fiz diferente e deixei um pouco a vigilância de lado. Não submergi. Apenas deitei sobre o lençol macio de água, boiando, fechei os olhos e me deixei levar. Permiti que o mar me navegasse. Primeiro a tensão: em que direção estou indo? Perdi o senso de localização (calma, Marina, você veio do mar).
Depois abdiquei da racionalidade. "Pare de pensar, faça o que Paulinho falou, deixe a onda lhe carrregar e lhe trazer". Deixei que meus sentidos me governassem: nenhum som, o silêncio absoluto que acalma; a carícia da água em minha pele; o balanço da maré que mais parece um acalanto. Nesse momento deixo de existir. Se a consciência é a consciência de algo, ali eu não tinha consciência, pois era apenas sentidos. É o nada. É o que tememos e evitamos.
AVISO: o nada é libertador. Não existir é existir conectada ao todo, é o existir mais potente que há. E, amigos, quando abri os olhos, finquei os pés no chão sólido e vi que estava no mesmo lugar, me senti segura, acolhida, viva e feliz.
Sim, escrevi um texto somente para contar que boiei no mar e me senti bem. Tão banal, tão simples. Quanto mais penso sobre a vida chego à conclusão que deveria pensar menos sobre a vida e apenas vivê-la e apreender o máximo de experiências que ela me proporciona.
Fui criada na racionalidade, no questionamento, no pensamento crítico, na eterna curiosidade e inquietação. Mas o que nos move, o que nos dá motivação e sentido são as emoções e sentimentos. Sentir mais e racionalizar menos, acho que serei mais feliz assim.
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